quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Friedman: será necessário um barco maior...

Thomas L. Friedman - New York Times - 18/11/2008
Barack Obama certamente está diante de um dos desafios de liderança mais difíceis que um presidente prestes a assumir já enfrentou. Estamos no meio de um colapso econômico terrível, o atual governo perdeu toda a credibilidade, a Câmara dos Deputados está cheia de neanderthais incivilizados e o público está sendo divido por fundamentalistas do livre mercado, que pregam as virtudes de deixar o mercado arrebentar, e esquerdistas que acham que podem punir Wall Street e proteger ao mesmo tempo a economia real. Parece um caos sem ninguém no comando.
É neste momento que um presidente precisa ter habilidade, visão e coragem para superar esta cacofonia, nos unir como nação e nos inspirar e permitir que façamos a única coisa que podemos e devemos no momento: Ir às compras.

Obama não pode esperar até 20 de janeiro para decidir isto. Se não estimularmos rápida e suficientemente a economia global, alguns dos bailes de posse de Obama poderão ser realizados em cozinhas de sopão.
Quando o presidente Bush nos disse para sairmos às compras após o 11 de Setembro, ele estava certo. Nós precisávamos estimular a economia naquele momento. O problema é que a equipe econômica de Bush nunca desligou a luz verde e mandou que as pessoas economizassem.
Assim, com o crédito fácil aparentando ter disponibilidade infinita, os consumidores americanos não pouparam virtualmente nada e inflacionaram os preços dos imóveis a valores recordes. Os varejistas ampliaram suas lojas e a China ampliou suas fábricas para acomodar tanto consumo. Foi uma festa e tanto. Nós tínhamos bancos nos Estados Unidos concedendo hipotecas a qualquer um, me disse um corretor hipotecário.
Mas quando algo parece ser bom demais para ser verdade, geralmente é. Quando essas hipotecas imprudentes no final estouraram, isso levou à crise de crédito. Os bancos pararam de emprestar. Isso logo se transformou em uma crise de ativos, à medida que investidores preocupados começaram a liquidar seus portfólios. A crise de ativos fez as pessoas se sentirem pobres e virou uma crise de consumo, que é o motivo para as compras de carros, eletrodomésticos, imóveis e roupas terem despencado. Isto, por sua vez, tem levado a mais calotes de empresas, exacerbado a crise de crédito e se transformado em uma crise de desemprego, à medida que as empresas correm para demitir funcionários.
Os governos estão tendo dificuldade para conter esta espiral deflacionária -talvez porque esta crise financeira combine quatro elementos que nunca vimos combinados desta forma antes, e não termos compreensão plena de quão danosas foram e poderão ainda ser suas interações.
Estes elementos são:
1) alavancagem imensa - por parte de todos, dos consumidores que compraram imóveis sem nenhuma entrada aos fundos hedge que apostavam US$ 30 para cada US$ 1 que tinham em dinheiro;
2) uma economia mundial que está muito mais interligada do que as pessoas percebiam, que é exemplificada pelos departamentos de polícia britânicos que estão destituídos financeiramente porque investiram seu dinheiro em bancos online da Islândia -para obter um melhor rendimento- que implodiram;
3) instrumentos financeiros entrelaçados globalmente e que são tão complexos que a maioria dos presidentes-executivos que lidam com eles não entendem como funcionam -especialmente no lado negativo;
4) uma crise financeira que começou nos Estados Unidos com nossas hipotecas tóxicas. Quando uma crise começa no México ou na Tailândia, nós podemos nos proteger; quando começa nos Estados Unidos, ninguém pode.
Quando se reúne tamanha alavancagem com tamanha integração global e tamanha complexidade, e então uma crise tem início nos Estados Unidos, o resultado é uma situação bastante explosiva.
Se você pretende combater um pânico financeiro global como este, é preciso atacá-lo com uma força esmagadora - um estímulo esmagador que leve as pessoas a comprarem novamente e uma recapitalização do sistema bancário que o faça emprestar de novo. Eu só espero que o Tesouro americano tenha dinheiro suficiente para fazê-lo. Quando se olha para a forma como o AIG, Fannie Mãe e Freddie Mac estão comendo dinheiro, começam a surgir dúvidas.
E isso me leva de volta a Obama. Nós precisamos de um líder que possa olhar o país nos olhos e dizer claramente: "Nós nunca vimos isso antes. Só há duas opções agora, pessoal: fazer tudo o que pudermos para escorar os bancos e proprietários de imóveis ou correr o risco de um colapso do sistema".
Sim, isso pode significar o resgate a alguns banqueiros que não merecem ser resgatados, ajudando ao mesmo tempo os banqueiros prudentes que fizeram o que era certo. E sim, isso pode significar resgatar os proprietários de imóveis imprudentes que nunca deveriam ter obtido empréstimos hipotecários e agora não têm como pagá-los, sem ajudar as pessoas que pouparam prudentemente e ainda estão pagando em dia suas hipotecas.
Não, não é justo. Mas justiça não está mais no cardápio. Nós lidaremos com isso depois. No momento nós precisamos despejar tudo o que pudermos neste problema para assegurar que esta recessão não se transforme em uma depressão. Não há tempo para meias medidas.
Se você quer saber onde estamos no momento, alugue o filme "Tubarão". Nós estamos naquele momento em que Roy Scheider avista o Grande Tubarão Branco e se vira e diz ao comandante, com olhos arregalados de medo: "Você vai precisar de um barco maior".
Tradução: George El Khouri Andolfato

A crise do sistema financeiro vista pelos cartunistas...




terça-feira, 4 de novembro de 2008

Porque é um crime não estudar Porter nos cursos de Economia e Administração

Este trecho diz tudo...
.... Diz tudo sobre a importância de se estudar mais (com exemplos práticos) as estratégias de posicionamento nos mercados com suas estruturas, em busca de Vantagens Competitivas, ao invés de estudar somente as estruturas...
....Diz tudo sobre entender porque alguns são mais bem sucedidos (até mesmo ao ponto de formarem um oligopólio) quando executam melhor as estratégias.
Enfim, porque é um crime não estudar Porter nos cursos de Economia e Administração...

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Valor Economico - 05/11/2008
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Os bancos brasileiros mostraram-se extremamente ágeis e competentes para se defender da onda de invasão de bancos estrangeiros que ocorreu nos anos 90, quando os ventos da liberalização sopraram com força na América Latina. O sistema financeiro argentino passou quase todo para instituições globais, que também ocuparam posições relevantes no Chile, Peru, Venezuela e México. No Brasil, entretanto, os grandes bancos globais, especialmente os espanhóis do Santander e BBVA, foram contidos em seu expansionismo por uma combinação de aquisições, inovação, investimentos e corte de custos executados pelos bancos domésticos.



Para o sucesso da expertise local contribuiu o enorme período de adaptação que os estreantes tiveram ao adquirir instituições falidas como o Bamerindus e o Econômico. O BBVA, que comprou o Excel - que já não conseguira digerir o Econômico - bateu em retirada do mercado nacional. O Santander patinou por um bocado de tempo até integrar negócios desiguais comprados em várias partes do país. A tacada mais certeira e sem risco foi a compra do Real, um banco bem posicionado, sólido e lucrativo, pelo ABN. O cenário competitivo mudou quando o Santander ficou com o Real.


A melhor defesa foi o ataque, parece ter sido a estratégia do Itaú. O Unibanco era um alvo difícil, mas até certo ponto previsível, e arrebatá-lo deu ao Itaú uma preciosa muralha de proteção e inúmeras vantagens. De uma só vez, bateu o Bradesco e o Banco do Brasil e se tornou o maior banco nacional.


Por outro lado, colocou grandes obstáculos no caminho de seus concorrentes privados, porque nenhuma das instituições que estão na parte inferior do ranking das dez maiores têm o porte do Unibanco, nem está tão bem enraizada em setores estratégicos. Com o Unibanco, o Itaú passa a ter uma formidável posição no mercado de crédito, de seguros, de gestão de recursos e corporativo.

O lance do Itaú definiu a cara da competitividade e concorrência do setor financeiro, pelo menos no curto prazo. Não apenas a concentração aumentou, mas as três maiores instituições privadas (Itaú-Unibanco, Santander-Real e Bradesco) e as duas estatais, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, distanciaram-se muito dos demais bancos. Todos os cinco têm ativos superiores a R$ 260 bilhões e o sexto lugar no ranking é do HSBC, com R$ 97,5 bilhões.

A disputa pela liderança e por ganhos de escala, ao que tudo indica, passará pela compra de bancos menores, embora no pelotão de elite dos dez maiores. O banco Votorantim, o sétimo colocado, e o Safra, o oitavo, tornaram-se belos alvos a partir de agora. A Nossa Caixa deverá ser comprada pelo Banco do Brasil, e pouco se sabe sobre os planos do Citibank, o décimo no ranking. Atingido em cheio pela crise financeira, o banco planeja uma liquidação de ativos global da ordem de US$ 400 bilhões.