quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Que isso nao saia de Las Vegas !!

Thomas L. Friedman
The New York Times 17 08 2008
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(Keep It in Vegas)
THOMAS L. FRIEDMAN
That’s what happens when bubbles burst. You feel wiped out, and the coolness with which the dealers — in this case the markets — sweep away all your chips is unnerving. It’s easy to over-react, and it is important that we don’t. Now is the time for coolly sorting out what markets can do best and what governments need to do better.

Let’s understand what happened here. Wall Street — the financial industry — became a bubble in recent years thanks to an excess of liquidity and the oldest bubble maker in history: greed. Some of the smartest people forgot one of the oldest rules of investing: There is no such thing as a risk-free return. When you reach too far for yield, sooner or later you get burned.

In the ’90s, the no-lose, risk-free, high-yield return was supposed to be dot-com stocks. This decade’s version are subprime mortgages and financial stocks. Just like the dot-comers in the 1990s, the financial stocks got inflated to ridiculous levels and salaries for Wall Street executives reached ridiculous heights. You are now watching live and in color that bubble burst: “Thank you for playing, Lehman Brothers.” That’s really sad for a 158-year-old company.

The market is now consolidating this industry, with the strong eating the weak, which will impose its own fiscal discipline. Good. Maybe then more of our next generation of math geniuses will think about going into engineering the next great global industry — energy technology — rather than engineering derivatives.

But we also need to understand the uniqueness of this bubble in order to identify where smart government needs to step in. One reason this financial bubble got so big is now well known: you and your neighbor went out and got subprime mortgages, which enabled many more people to become homeowners — a real blessing. Your local finance company or bank, which extended those mortgages, later resold them to an aggregator who put them into big packages with thousands of other subprime mortgages. Then those loan packages were chopped up and sold in small pieces as corporate bonds to all kinds of institutions, who were reaching for extra yield. Your subprime mortgage payments went to pay the interest on those bonds.

But as the housing market collapsed, and people couldn’t cover their mortgages or sell their houses, the bonds lost value and, therefore, the banks that held them lost capital, and the whole pyramid started to crumble. This infected the entire housing market, so banks no longer knew the value of their mortgage-backed assets. The result? They stopped lending. Hence, the current credit crunch. This credit crunch is what makes this crisis so lethal. We can’t tolerate a prolonged situation where banks won’t lend to good companies.

That’s why Congress needs to create another Resolution Trust Corporation like we used to get out of the savings-and-loan crisis of the 1980s. As then, so now, we need a government agency to buy the toxic mortgages off the banks’ balance sheets, hold them and sell them in an orderly way later. That would prevent a fire sale of homes and mortgages now and restore confidence to banks so they start lending again.

In the long run, though, regulators need to find ways to limit the amount of leverage investment banks or insurance companies can take on at any one time, because given how intertwined they all are in today’s global economy, one bank blowing up can now take down many.

“We are at the end of an era — the end of ‘leave it to the markets’ and of the great cop-out that less government is always better government,” argues David Rothkopf, a former Commerce Department official in the Clinton administration and author of a book about the world’s financial leaders who brought about this crisis: “Superclass: The Global Power Elite and the World They Are Making.” “I think, however, it is important to stress the difference between smart government and simply more government.

“We do not need a regulatory ‘surge’ on Wall Street,” he added. “We need a complete rethinking of how we make global financial markets more transparent and how we ensure that the risks within those markets — .many of which are new and many of which are not well understood even by the experts — are managed and monitored properly.”

In sum, government’s job is to police that fine line between the necessary risk-taking that drives an innovation economy and crazy gambling with other people’s savings in ways that threaten us all. We need to make sure that what happens in Vegas stays in Vegas — and doesn’t come to Main Street. We need to get back to investing in our future and not just betting on it.
RESUMO
O conhecido Economista e Articulista americano, com sua costumeira verve, faz uam análise bem humorada da crise americana (quando ela ainda não tinha atingido a atual profundidade). Relembra e compara que, nos anos 90, o retorno sem risco, sem prejuízo e altamente lucrativo supostamente vinha das ações pontocom, e que a versão desta década são as hipotecas subprime (de risco) e as ações de empresas do setor financeiro. Conclui, com ironia e fina classe, que o trabalho do governo é policiar esta linha tênue entre o risco necessário que leva a uma inovação na economia e as apostas insanas com as economias de outras pessoas de uma forma que ameaça a nós todos. E diz, sem muito entusiasmo e fé de que realmente ocorra, que precisamos cuidar para que o que acontece em Las Vegas permaneça em Las Vegas - e não chegue à Wall Street.
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Enquanto assistia algumas ações de empresas do setor financeiro serem exterminadas nos últimos meses, eu freqüentemente ouvia uma voz na minha cabeça, e é a mesma voz de um daqueles crupiês em Las Vegas, que friamente lhe diz enquanto recolhe suas fichas após você ter perdido no 21: "Obrigado por jogarem, senhoras e senhores".

É isso o que acontece quando bolhas estouram. Você se sente arrasado, e a frieza com que os crupiês - neste caso os mercados - recolhem todas as suas fichas é enervante. É fácil reagir exageradamente, e é importante que isso não ocorra. Agora é hora dos mercados estudarem friamente o que os mercados podem fazer melhor e o que os governos precisam fazer melhor.
Vamos entender o que aconteceu aqui. Wall Street - o setor financeiro - se tornou uma bolha nos últimos anos graças ao excesso de liquidez e o mais antigo criador de bolhas da história: a ganância. Algumas das pessoas mais inteligentes esqueceram uma das regras mais antigas do investimento: não existe algo como retorno sem risco. Quando você vai longe demais para obter lucro, cedo ou tarde você acaba se dando mal.

Nos anos 90, o retorno sem risco, sem prejuízo e altamente lucrativo supostamente vinha das ações pontocom. A versão desta década são as hipotecas subprime (de risco) e as ações de empresas do setor financeiro. Assim como as empresas pontocom nos anos 90, as ações das empresas do setor financeiro ficaram inflacionadas a níveis ridículos e os salários dos executivos de Wall Street chegaram a alturas ridículas. Agora você está assistindo ao vivo e a cores esta bolha estourar: "Obrigado por jogar, Lehman Brothers". Isso é realmente triste para uma empresa de 158 anos.

O mercado agora está consolidando este setor, com os fortes devorando os fracos, o que imporá sua própria disciplina fiscal. Bom. Quem sabe mais da nossa próxima geração de gênios matemáticos optará por se dedicar à próxima grande indústria global - a tecnologia de energia - em vez de se dedicar a derivativos.

Mas também precisamos entender a singularidade desta bolha visando identificar onde o governo precisa intervir. Um motivo para esta bolha financeira ter ficado tão grande agora é bem conhecido: você e seu vizinho saíram e fizeram hipotecas subprime, que permitiram muito mais pessoas se tornarem proprietárias de imóveis - uma verdadeira bênção. Seu banco ou financeira local, que ofereceu estas hipotecas, posteriormente as revenderam a um agregador que as colocou em grandes pacotes com milhares de outras hipotecas subprime. Então esses pacotes de empréstimos foram picados e vendidos em pequenos pedaços, como títulos corporativos para todo tipo de instituições em buscavam um lucro adicional. Seus pagamentos da hipoteca subprime pagavam os juros desses títulos.

Mas com o colapso do mercado imobiliário, e com as pessoas incapazes de pagar suas prestações da hipoteca ou venderem suas casas, os títulos perderam valor e, portanto, os bancos de posse deles perderam capital, e toda a pirâmide começou a desmoronar. Isso contaminou todo o mercado imobiliário, de forma que os bancos não mais sabiam o valor de seus ativos apoiados por hipotecas. O resultado? Eles pararam de emprestar. Daí o atual arrocho do crédito. Este arrocho do crédito é o que torna esta crise tão letal. Nós não podemos tolerar uma situação prolongada onde os bancos não emprestam para boas empresas.

Esse é o motivo para o Congresso precisar criar outra Resolution Trust Corp. como a que usamos para sair da crise dos empréstimos e poupanças dos anos 80. Como naquela época, nós precisamos de uma agência do governo que compre as hipotecas tóxicas dos bancos, as deixe em ordem e posteriormente as venda. Isso impediria uma grande liquidação de imóveis e hipotecas agora e devolveria a confiança aos bancos, para que comecem a emprestar de novo.

Mas a longo prazo, os reguladores precisam encontrar formas de limitar a quantidade de alavancagem que os bancos de investimento e seguradoras podem empregar, porque dado quão interligados estão atualmente na economia global, o colapso de um banco pode levar muitos consigo.
"Nós estamos no fim de uma era - o fim do 'deixe isso por conta dos mercados' e da grande desculpa de que menos governo é sempre melhor governo", argumenta David Rothkopf, uma ex-funcionário do Departamento de Comércio durante o governo Clinton e autor de um livro sobre os líderes financeiros mundiais que provocaram esta crise: "Superclasse: A Elite que Influencia a Vida de Milhões de Pessoas ao Redor do Mundo". "Mas eu acho que é importante destacar a diferença entre governo inteligente e simplesmente mais governo."

"Nós não precisamos de um aumento regulatório em Wall Street", ele acrescentou. "Nós precisamos de um repensar completo de como tornar os mercados financeiros globais mais transparentes e como assegurar que os riscos dentro desses mercados - muitos dos quais são novos e não muito bem entendidos mesmo pelos especialistas- são administrados e monitorados apropriadamente."

Resumindo, o trabalho do governo é policiar esta linha tênue entre o risco necessário que leva a uma inovação na economia e as apostas insanas com as economias de outras pessoas de uma forma que ameaça a nós todos. Nós precisamos cuidar para que o que acontece em Las Vegas permaneça em Las Vegas - e não chegue à Wall Street. Nós precisamos voltar a investir em nosso futuro, não apenas apostar nele.

Resenha - Vantagem Competitiva das Nacoes - 2a parte

PORTER, Michael E. A Vantagem Competitiva das nações. Rio Janeiro: Campus, 1989.
Resenha dos capitulos 7 a 11
Na segunda parte (após o cap 6) Porter dedica-se a explicar o sucesso de algumas empresas selecionadas, indicando que elas conseguiram demonstrem a sua capacidade não apenas a adotar estratégias competitivas adequadas, mas também de realizar mudanças de rumo quando isto for exigido. Para tanto, as características especiais do mercado e do ambiente econômico e as mudanças esperadas nas formas de concorrência são alguns dos elementos que devem dar a direção das empresas na escolha de suas estratégias. O conhecimento destas características auxilia a descobrir quais vantagens competitivas serão transformadas em maiores vendas e lucros. Qualquer que seja a fonte, as vantagens competitivas usualmente exigem tempo para ser atingidas.

Estas idéias fazem lembrar algumas trabalhhos sobre competitividade, como os de Coutinho & Ferraz (1995), para o qual essa característica aplica-se principalmente às vantagens relacionadas à inovação (características, por exemplo, as indústrias eletro-eletrônica e de tecnologia da informação) e, portanto, a análise da competitividade deve levar em consideração a soma das vantagens competitivas adquiridas pelas empresas.
Também importante nas idéias propostas por Porter é o fato de ser preciso que a empresa seja detentora da capacidade para implementar a estratégia que tenha sido escolhida, sendo que esta deve ser baseada não apenas na capacitação técnica, mas também no desempenho anterior da corporação, que pode ser demonstrado por: capacidade financeira, relações com fornecedores e usuários, imagem conquistada, diferenciação de seus produtos e penetração no mercado, por exemplo A competitividade pode ser definida então, como a capacidade da organização conseguir, em um ambiente de alta competição (ou seja: num ambiente sem monopólios e onde haja um número grande de empresas competindo), obter a sinergia dos atributos ambientais deste modelo de Porter, chamado de “Diamante da competitividade organizacional”. Estes atributos são: fator de produção, fator de demanda e indústrias relacionadas – e, através da utilização do atributo interno – estratégia. Com eles, pode-se superar as demais organizações concorrentes no mesmo ambiente.
O atributo Fator de Produção representa a disponibilidade e o nível de desenvolvimento das fontes de suprimentos de: recursos humanos hábeis, recursos naturais, recursos de capital, infra-estrutura, tecnologia e base científica acessível à organização em seu ambiente.

Já o chamado atributo Fator de Demanda representa a natureza da demanda existente no ambiente onde a organização opera. Representa a pressão exercida por esta demanda no sentido de exigir inovações que levem ao atendimento de suas necessidades por parte das organizações, o principal agente de desenvolvimento da competição presente no ambiente. Trata-se de um instrumento de pressão, necessidade e mesmo adversidade necessário como motor para o advento da inovação. No entanto, inclui a concorrência ou rivalidade existente entre as diversas organizações atuando no mesmo ambiente; e também a capacidade destas organizações satisfazerem às exigências da demanda.

O terceiro atributo, denominado Indústrias Relacionadas refere-se à presença e ao nível de desenvolvimento e eficiência das empresas fornecedoras e atuantes na cadeia produtiva da organização. Trata-se de um importante atributo na busca de inovação por parte de qualquer organização.

Por fim, o chamado Atributo Estratégia; segundo Porter, é o único do modelo de competitividade que depende exclusivamente da organização, ao contrário dos três anteriores que se relacionam fundamentalmente ao ambiente. É representado pela forma como a organização é estruturada e administrada e também da forma como, particularmente enxerga os demais atributos presentes em seu ambiente, e, a partir disso, cria as inovações necessárias à satisfação da demanda; além disso, ao mesmo tempo, a forma como a empresa se reorganiza com o intuito de implementar as inovações geradas. Tais inovações são consideradas no sentido schumpeteriano, ou seja: um processo onde ocorra a criação de uma nova tecnologia, uma nova fonte de suprimentos, ou um novo tipo de organização mais eficiente, de tal maneira que represente vantagem de custo, qualidade, ou ambos; e assim, seja uma ameaça à sobrevivência dos outros competidores através da capacidade de tomar participações de mercado.

Com base nestas colocações de Porter, para avaliação da capacidade de formular e implementar estratégias, é fundamental verificar em que se baseia essa capacidade. Isto significa: identificar os fatores relevantes para o sucesso competitivo - sejam internos à própria empresa, ao seu segmento de atuação, ou sistêmicos à própria economia do país; a partir daí verificar a sua importância setorial no presente e a que se pode esperar no futuro próximo, e avaliar o potencial das firmas do país com relação a eles. Chega-se, assim, uma abordagem dinâmica do desempenho competitivo da empresa, baseada no exame de seus fatores determinantes.

Resenha - Vantagem Competitiva das Nacoes - 1a parte

As transformações econômicas dos anos 1980-90 ampliaram, no período que passou a ser conhecido como era da globalização, a noção de competitividade das nações. Uma definição particularmente influente colocada por Porter revela que a competitividade para uma nação é o grau pelo qual ela pode, sob condições livres e justas de mercado, produzir bens e serviços que se submetam satisfatoriamente ao teste dos mercados internacionais enquanto, simultaneamente, mantenham e expandam a renda real de seus cidadãos. Competitividade é a base para o nível de vida de uma nação. É também fundamental à expansão das oportunidades de emprego e para a capacidade de uma nação cumprir suas obrigações internacionais.

Essa abordagem traz o reconhecimento que a competitividade internacional de economias nacionais tem como base a competitividade das empresas que operam dentro das suas fronteiras, e exportam a partir delas. Concomitantemente, identifica a competitividade das economias nacionais como sendo algo mais do que a simples agregação do desempenho de suas empresas; passa pela sinergia entre as respectivas cadeias, e o próprio desenho de políticas industriais e do ambiente concorrencial que preservem certos aspectos de competitividade.
Nessa visão dinâmica da competição e da internacionalização, predominante em Porter, a competitividade deve ser entendida como a capacidade da empresa de formular e implementar as chamadas estratégias competitivas. Porter define estratégia competitiva como a busca do que seria uma posição competitiva favorável em um setor, cujo objetivo seria exatamente a busca do estabelecimento de uma posição lucrativa e sustentável na luta contra as forças que determinam os processos concorrenciais em cada atividade, setor ou país.
Porter menciona cinco forças competitivas:

Os entrantes potenciais caracterizam a ameaça da entrada de novas empresas na disputa pelo mercado.
Os produtos substitutos exprimem ameaças constantes à estrutura de mercado na qual a empresa está inserida. A convivência com esse tipo de força resulta numa limitação das margens de lucro, pois o nível de preços estabelecido pode induzir os consumidores a procurarem alternativas mais acessíveis, substituindo então seus produtos.
O poder de barganha dos fornecedores resulta numa ameaça nos mercados caracterizados pela ação de monopólios, oligopólios, cartéis ou qualquer outra forma de ação conjunta dos fornecedores.
O poder de barganha dos compradores é diretamente relacionado ao grau de concentração das vendas. O alto grau de concentração, muitas vezes, pode ser induzido por questões da estrutura de mercado ou gerenciais. Os clientes, é claro, procurarão forçar tanto mais sua ação nos preços quanto maior for a importância do produto em sua estrutura de custos. É importante que se identifiquem as possíveis tendências à integração a montante dos clientes.
A rivalidade entre os concorrentes existentes é caracterizada pelas costumeiras ações de guerra de preços, pelas campanhas publicitárias, e pela introdução de novos produtos. O sucesso competitivo passa, assim, a depender da criação e renovação das vantagens competitivas por parte das empresas; este é um processo onde cada produtor se esforça por obter peculiaridades que o distingam favoravelmente dos demais, como, por exemplo, custo e/ou preço mais baixo, melhor qualidade, menor lead-time com base em expertise logística, maior habilidade de servir à clientela, etc.

O almoço grátis de Fannie e Freddie

O almoço grátis de Fannie e Freddie
Joseph Stiglitz
Valor On Line 30/07/2008
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RESUMO

O autor, premio Nobel de Economia, procura relembrar o valor da máxima "não existe almoço grátis", de Milton Friedman. Escrita ainda ao inicio da atual crise americana, defende que as pessoas responsáveis pelos erros - diretoria, acionistas e detentores de bônus - e devem arcar com as conseqüências. Defende que não se deve exigir que os contribuintes coloquem um tostão enquanto os acionistas estão sendo protegidos, e que os contribuintes precisariam ser compensados pelos riscos que enfrentam. Conclui que não devemos nos preocupar sobre os acionistas perderem seu investimento, pois nos primeiros anos, eles foram amplamente recompensados, e, depois, eles tiveram o que pediram.
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Muito tem sido feito nos anos recentes a respeito de parcerias público-privadas. O governo dos EUA está prestes a embarcar em mais um exemplo desse tipo de parceria, na qual o setor privado abocanha os lucros e o setor público assume as responsabilidades.
A sugerida operação de salvamento da Fannie Mae e do Freddie Mac resulta na socialização do risco - com todas as implicações adversas de longo prazo para o risco moral - de uma administração supostamente comprometida com os princípios do livre mercado.
Os defensores do socorro argumentam que essas instituições são grandes demais para que lhes seja permitido declarar falência. Se este é o caso, o governo tinha a responsabilidade de regulá-las para que não falissem. Nenhuma companhia de seguros daria cobertura a esse incêndio sem exigir sistemas apropriados de dispersão de água contra fogo; nenhuma deixaria o assunto para a "auto-regulação". É isso, porém, o que temos feito com o sistema financeiro.
Mesmo que sejam grandes demais para falir, não são grandes demais para serem reorganizados. De fato, o governo realmente está propondo uma forma de reorganização financeira, mas do tipo que não atende aos princípios básicos do que esse tipo de programa patrocinado publicamente deveria constituir.
Primeiro, ele deve ser completamente transparente, sendo que os contribuintes devem conhecer os riscos que assumiram e quanto foi concedido aos acionistas e detentores de ações que estão sendo socorridos. Segundo, deve haver total prestação de contas. As pessoas responsáveis pelos erros - diretoria, acionistas e detentores de bônus - devem arcar com as conseqüências. Não se deve exigir que os contribuintes coloquem um tostão enquanto os acionistas estão sendo protegidos. Por fim, os contribuintes precisariam ser compensados pelos riscos que enfrentam. Quanto maiores os riscos, maior a compensação.
Todos esses princípios foram violados no salvamento do Bear Stearns. Os acionistas se retiraram com mais de US$ 1 bilhão, ao passo que os contribuintes ainda não conhecem o tamanho dos riscos que assumiram. Pelo que se pode perceber, os contribuintes não estão recebendo nenhum centavo por toda essa carga de risco. Escondidos nos títulos lastreados em créditos concedidos ao JP Morgan pelo Federal Reserve (Banco Central dos EUA), que possibilitaram ao banco assumir o controle do Bear Stearns, quase certamente existiam opções de taxas de juros e de créditos no valor de bilhões de dólares. Teria sido fácil projetar uma reestruturação mais transparente e que protegesse melhor os interesses dos contribuintes, concedendo alguma compensação para a carga de risco que suportam.

O salvamento da Fannie e do Freddie é a socialização do risco de administrações comprometidas com os princípios do livre mercado

Mas o socorro proposto à Fannie Mae e ao Freddie Mac faz o salvamento do Bear Stearns parecer um modelo de boa governança. É um exemplo para outros países sobre o que não fazer. O mesmo governo que não conseguiu regular e depois pareceu empolgado com o plano de socorro ao Bear Stearns agora pede que o povo americano assine um cheque em branco. Eles dizem: "confiem em nós". Sim, podemos confiar na administração - ou dispensar mais um tratamento injusto aos contribuintes.
Algo precisa ser feito - nesse ponto todos concordam. Deveríamos começar do núcleo do problema, do fato de milhões de americanos terem tomado empréstimos acima da sua capacidade de pagar. Precisamos ajudá-los a permanecer nas suas residências, inclusive por meio da conversão da dedução do financiamento da casa própria em um crédito fiscal que possa ser convertido em dinheiro, e criar uma lei de concordata de proprietários de moradias, uma forma ágil de reestruturar as suas dívidas. Isso trará clareza aos mercados de capitais, reduzindo a incerteza em torno da dimensão do rombo nos balanços patrimoniais da Fannie Mae e do Freddie Mac.
O governo deve fixar um limite para o tamanho do plano de salvamento, deixando claro ao mesmo tempo que, apesar de não permitir a quebra da Fannie Mae e do Freddie Mac, tampouco entregará um cheque em branco. Uma reorganização drástica será necessária. Deveria haver uma taxa pela "linha de crédito" (qualquer empresa privada faria o mesmo) e, dado o risco, seria a uma taxa acima do normal.
O setor privado sabe como proteger os seus interesses; o governo não deveria fazer menos. Enquanto a linha de crédito for estendida, não deverão ser pagos dividendos. Para se assegurar de que o governo não estaria simplesmente socorrendo credores que foram reprovados na avaliação da sua credibilidade financeira, pelo menos, digamos, 25% de qualquer título, empréstimo ou bônus vencendo que não seja emprestado de novo deveria ser posto de lado numa conta vinculada, a ser paga apenas depois de ficar caracterizado que os contribuintes não correm risco. Todo e qualquer tipo de empréstimo do governo deve ser dívida preferencial com direito a dividendo cumulativo: os contribuintes são ressarcidos antes de qualquer outro credor receber um centavo. Para desestimular risco moral, a taxa de juros deve ser fixada a uma taxa de multa e, espelhando o risco ascendente, aumentar com a quantia tomada. Por último, o governo deveria participar no potencial positivo, assim como no potencial negativo - por exemplo, aceitando ações (que poderá vender depois) ou, como fez no socorro à Chrysler, garantias.
Não devemos nos preocupar sobre os acionistas perderem seu investimento. Nos primeiros anos, eles foram amplamente recompensados. Os pacotes de remuneração de diretoria que eles aprovaram foram projetados para incentivar a excessiva exposição a riscos. Eles tiveram o que pediram. Tampouco deveríamos ficar preocupados com a perda do dinheiro por parte dos credores. A falta de fiscalização deles alimentou a bolha da casa própria e agora todos estamos pagando o preço. Deveríamos nos preocupar em saber se existe uma oferta de liquidez no mercado habitacional, para que as pessoas que quiserem comprar uma casa possam receber um empréstimo. Esta proposta oferece a liquidez necessária.
Uma lei básica de economia sustenta que não existe almoço grátis. As pessoas no mercado financeiro tiveram um banquete suntuoso e agora o governo está pedindo ao contribuinte que pague parte da fatura. Devemos simplesmente dizer não.