quinta-feira, 19 de junho de 2008

A globalizacao e a internet

http://www.riototal.com.br/coojornal/hszmuk017.htm

Por Helga Szmuk

Eficiencia Energetica - Economizando no chuveiro

Navegem em

http://www.rewatt.com.br/index.php?pg=detalhe&id=6&tipo=e

Muito interessante !!

BH Vista da Serra do Curral / Mangabeiras

Vitoriosos da globalização à caça do próximo país de baixos salários

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2008/05/15/ult2682u794.jhtm



15/05/2008
Vitoriosos da globalização à caça do próximo país de baixos salários
- Parte 2
O que as empresas ocidentais fazem quando os operários da China
começam a exigir melhores salários e condições? Fácil -transferem a
produção para um país mais barato. A perda da China é o ganho do
Vietnã

De Alexander Jung e Wieland Wagner

A caravana passa
O administrador Huang Hanxin, 68 anos, está combatendo a nova onda
de custos em todas as frentes. Ele dirige a Sha Wan Dian Ji, uma das
maiores fabricantes de secadores de cabelo do mundo, que produz
cerca de 7 milhões de unidades por ano. Os funcionários, a maioria
mulheres jovens, montam os secadores que serão vendidos sob as
marcas Revlon, Conair, Babyliss e Vidal Sassoon. Eles montam os
corpos plásticos em uma taxa quase acrobática, com 70 mulheres
montando 3 mil unidades por dia na linha de montagem.

A fábrica antes conseguia um lucro de 15%, mas atualmente este
número caiu para entre 3% e 5%, diz Huang, acrescentando que a
valorização do yuan frente ao dólar prejudicou seriamente a empresa.
Além disso, diz Huang, leis de proteção ambiental mais rígidas
aumentaram em 3% a 5% o custo da produção. A União Européia exigiu
recentemente que os fabricantes reduzissem o conteúdo de substâncias
perigosas como chumbo e cádmio em aparelhos eletrônicos. Isto, diz
Huang, significa comprar materiais diferentes e mais caros.

Os compradores de bens importados da China estão descobrindo que
seus preços saltaram consideravelmente, especialmente para itens
comuns como vestuário e calçados. Grandes gerentes de compras de
empresas manufatureiras e de comércio alemãs confirmam que o "made
in China" não é mais sinônimo de "imbativelmente barato". Fontes na
gigante alemã de vendas por catálogo, Otto, dizem que notaram "altas
significativas de preços", especialmente para têxteis. A Kaufhof,
uma grande loja de departamentos alemã, também está vendo aumentos
constantes de preços para produtos feitos na China. Fontes nas
empresas dizem estar "preocupadas" com a situação. De fato, a
situação é motivo de preocupação para qualquer um que faça negócios
com a China, especialmente empresas de pequeno e médio porte.

Os fornecedores chineses aumentaram preços em todas as categorias de
produtos, diz Mario Moeschler, um executivo de marketing da Winora,
uma fabricante de bicicletas com sede na cidade bávara de
Schweinfurt, que diz que as altas nos preços foram entre 5% e 10%.
"Nós fomos informados sobre os aumentos de preços", diz Moeschler,
que recebe três a quatro cartas da China a cada semana.

A explicação para o aumento de preço é sempre a mesma, ele diz: o
valor da fatura é maior, infelizmente, porque o aço e o alumínio se
tornaram incrivelmente caros. Esses aumentos de preço são
especialmente prejudiciais aos fabricantes de bicicletas, que obtêm
muitas de suas peças, como quadros e garfos, da China.

É claro, os preços das matérias-primas subiram em todo o mundo. Mas
o que está tornando os produtos da China muito mais caros agora é o
enorme aumento nos custos trabalhistas. Um aumento anual de 10% ou
mais nos salários agora se tornou regra.

Atualmente um engenheiro chinês ganha cerca de US$ 31 mil por ano,
aproximadamente o dobro do que no início da década. Além disso, está
se tornando cada vez mais difícil encontrar -e manter- esses
trabalhadores qualificados.

Não causa surpresa que 94% das empresas alemãs com negócios na China
esperem que os custos salariais continuaram subindo, como mostrou um
levantamento da firma de consultoria administrativa
PricewaterhouseCoopers (PwC) e da Associação Federal de
Administração, Compra e Logística de Materiais. Segundo o estudo, a
economia média em preço com produtos chineses atualmente é de apenas
cerca de 10%. As empresas dizem que não é incomum para elas até
terem prejuízo.

"À medida que aumenta o padrão de qualidade e o nível de automação,
e as limitações de tempo se tornam mais restritivas, terceirizar
produtos na China está se tornando cada vez menos atrativo, do ponto
de vista do preço", diz Klaus Schulten, especialista da PwC.

Os importadores começaram a procurar por alternativas há muito
tempo. "Leste Europeu e Índia", conclui o estudo da PwC, "se
tornarão substancialmente mais importantes como mercados de
fornecimento a médio prazo". Parece que a caravana está seguindo em
frente.

Um empregador modelo
E a indústria de calçados estabeleceu o tom. Centenas de empresas já
tiveram que fechar suas fábricas na província de Guangdong, na
China. Ao mesmo tempo, centenas lançaram novas operações em países
como Índia, Bangladesh, Indonésia, Vietnã e Camboja. Ironicamente, a
indústria de calçados alemã às vezes se depara com velhos conhecidos
lá: freqüentemente são os chineses que desenvolvem fábricas nestes
países.

Thomas Schneider, 52 anos, também se estabeleceu no Vietnã, a terra
prometida da indústria internacional de calçados, onde a maioria dos
seus clientes -marcas globais, de Adidas a Timberland- estão cada
vez mais tendo seus calçados fabricados. Schneider pesquisou
inúmeros parques industriais antes de encontrar uma área próxima de
Ho Chi Minh, antes conhecida como Saigon. A partir de agosto de
2009, 200 operários começarão a curtir couro para Schneider na nova
instalação.

Schneider, que aprendeu a atividade de curtimento em Reutlingen,
perto de Stuttgart, quase estabeleceu raízes na China. Ele
desenvolveu um curtume em Taiwan e, no início dos anos 90, seguiu a
indústria do couro para a China, o mais recente paraíso de baixos
salários da época.

Ele agora opera um dos maiores curtumes da China em Guangdong, onde
sua empresa, a ISA Tan Tec, desenvolveu sistemas de produção bons
para o meio ambiente e fornece segurança e saúde ocupacional
exemplares, revolucionando assim uma indústria notoriamente
poluidora e insegura.

Mas agora sua fábrica modelo enfrenta dificuldades. No ano passado,
o governo em Pequim removeu as isenções de impostos para bens
exportados como couro. Desde abril, a ISA Tan Tec começou a pagar
perto de 18% do preço de venda em impostos para fornecer para
fábricas de calçado do exterior. No passado, a sobretaxa era de
pouco mais de 2%.

Aumentos gerais de preços -devido aos salários mais altos, taxa
recorde de inflação de mais de 8% e a valorização do yuan- também
complicaram as coisas. Mas a pior coisa na China, diz Schneider, é a
incerteza, porque as autoridades em Pequim planejam as isenções de
impostos ano a ano. Isto impossibilita para qualquer empresa
planejar de forma confiável para o futuro.

Devido aos altos custos, Schneider já reduziu sua força de trabalho
em Guangdong de 1.000 para 800 funcionários. Até que a fábrica
planejada no Vietnã esteja pronta para entrar em operação, ele já
conta com couro produzido no Vietnã por outro curtume. Afinal, seus
clientes não esperarão por ele.

Schneider também planeja seu novo endereço perto de Ho Chi Minh como
uma fábrica modelo. Apesar de ser obrigado a pagar aos trabalhadores
no Vietnã apenas metade do que paga aos trabalhadores na China
-cerca de US$ 65 por mês- as exigências rígidas das empresas de
calçados em relação à proteção ambiental e segurança se aplicam
igualmente ali. Schneider não têm restrições em atender, porque seus
métodos de produção bons para o meio ambiente são na verdade seu
trunfo mais forte na luta contra sua concorrência.

Ele até mesmo planeja reduzir a temperatura em sua fábrica usando
uma bomba de calor. Além de reduzir as emissões de CO2, essas
técnicas também permitem a Schneider reduzir seus custos de
eletricidade. Os preços também estão subindo no Vietnã, onde a
inflação está próxima de 20%. Durante uma visita de levantamento,
Schneider ouviu histórias de outros chefes sobre quão dura é a
disputa por pessoal qualificado. Após o Tet, o Ano Novo vietnamita,
milhares de vietnamitas não voltaram aos seus empregos -eles os
trocaram por empresas que pagam mais.

Mas Schneider não tem escolha. A próxima etapa do jogo se passa no
Vietnã -pelo menos até que seus clientes na indústria de calçados
decidam que é hora de se mudar para o próximo país de salário baixo.


Tradução: George El Khouri Andolfato

SENDO "ENXUTA", E "BEM ESCRITA", É "FANTASTICA", "ILUSTRADORA", "PEDAGÓGICA", "MUITO LEVEMENTE TENDENCIOSA"...

A história da 'Chináfrica' ou a aventura dos chineses no continente negro

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2008/05/20/ult580u3091.jhtm

20/05/2008
A história da 'Chináfrica' ou a aventura dos chineses no continente negro

Por Serge Michel e Michel Beuret
Especial para o Le Monde

O último ato da globalização está se desenrolando longe dos olhares dos
ocidentais. Os seus atores são milhares de migrantes chineses que vêm se
instalando por toda parte na África com o objetivo de construir,
produzir e comerciar. Serge Michel e Michel Beuret, acompanhados do
fotógrafo Paolo Woods, foram ao seu encontro.

A seguir, o "Le Monde" publica trechos do prólogo do seu livro que está
sendo lançado nesta terça-feira (20), intitulado "La Chinafrique, Pékin
à la conquête du continent noir" (A "Chináfrica", Pequim e a conquista
do continente negro, Editora Grasset & Fasquelle, 2008), ilustrado por
fotos de Paolo Woods.

"Ni hao, ni hao". Nós caminhávamos havia dez minutos por esta rua de
Brazzaville quando uma alegre turminha de crianças congolesas parou de
correr atrás de uma bola para nos cumprimentar. Os brancos, na África,
estão acostumados a ouvir saudações do tipo: "Hello mista!", "salut
toubab!", ou ainda, "Monsieur Monsieur!". Mas esses moleques, alinhados
e sorridentes à beira da calçada, enriqueceram o repertório. Eles
gritaram: "Ni hao, ni hao", ou seja, bom dia em chinês, antes de
prosseguirem o seu jogo. Para eles, todos os estrangeiros são chineses.

Algumas centenas de metros mais adiante, operários de uma companhia
chinesa estavam trabalhando na construção da nova sede da televisão
nacional congolesa, um edifício de vidro e de metal que parecia ter
caído do céu neste bairro popular. Além disso, na entrada da rua, esta
mesma companhia também construia uma mansão suntuosa destinada a um
membro do governo, sem dúvida numa forma de agradecimento pela
atribuição da obra da televisão. Na cidade, outras empresas chinesas
estavam dando os últimos retoques no novo ministério das relações
exteriores e da francofonia, e ainda tapavam os buracos de obus nos
prédios atingidos pela guerra civil.

*Histórias de uma nova África*

A 2.250 quilômetros a noroeste dali, na periferia de Lagos, na Nigéria,
a usina da Newbisco estava vivendo uma maldição. Fundada por um
britânico antes da independência de 1960, esta unidade de produção de
biscoitos água e sal conheceu muitos proprietários diferentes, uma vez
que nenhum deles se mostrou capaz de mantê-la lucrativa num país onde as
exportações petroleiras e a corrupção sufocam qualquer outra atividade
econômica. Em 2000, o seu penúltimo patrão, um indiano, revendeu a
Newbisco, já num estado bastante deteriorado, para o homem de negócios
chinês Y. T. Chu. Quando nós entramos na usina, numa manhã de abril de
2007, um cheiro de farinha e de açúcar flutuava no ar. As esteiras
rolantes carregavam a cada hora mais de três toneladas de pequenos
biscoitos que eram imediatamente embalados por dezenas de operárias.
"Nós cobrimos apenas 1% das necessidades do mercado nigeriano", disse Y.
T. Chu com um sorriso.

Os repórteres retornam quase sempre da África com histórias dramáticas
de crianças esfomeadas, de conflitos étnicos e de ondas de violência
incompreensíveis. É claro, nós fomos testemunhas do tudo isso no
decorrer das nossas reportagens na África ao longo dos últimos anos,
mas, desta vez, no momento de começar a redação deste livro, são as
imagens de uma África nova que predominam em nossa mente: as crianças de
Brazzaville que cumprimentam em chinês, a usina de biscoitos de Lagos,
ou ainda a auto-estrada que foi construída no Sudão, e que nós
utilizamos no verão de 2007.

Nós estávamos viajando de carro havia duas horas entre Cartum e
Port-Soudan quando um trecho do livro de Robert Fisk voltou a assombrar
a nossa mente. Em 1993, foi numa aldeia situada à esquerda desta estrada
que o repórter britânico marcara um encontro com Osama Bin Laden, que
havia se refugiado no Sudão após ter conclamado os muçulmanos à guerra
santa contra os americanos na Arábia Saudita. Para agradecer aos seus
anfitriões sudaneses, ele explicou para Fisk que iria construir uma nova
estrada de 800 quilômetros entre a capital e o grande porto. Em 1996, o
terrorista foi obrigado a fugir novamente, desta vez para o Afeganistão,
onde ele desenvolveu outros projetos, que não diziam respeito à
engenharia civil. Quem se habilitaria a concluir a sua obra? Os
chineses. Eles prevêem até mesmo construir uma ferrovia ao lado da
auto-estrada. As companhias chinesas, que chegaram maciçamente ao país a
partir de meados dos anos 1990, nele já investiram US$ 15 bilhões (cerca
de R$ 25 bilhões), em particular na exploração de poços de petróleo que
fornecem atualmente à China cerca de 10% das suas importações.

Durante mais de um ano, nós percorremos milhares de quilômetros e
visitamos quinze países com o objetivo de contar o que a China está
fazendo na África. Esta idéia já caminhava em nossa mente havia certo
tempo, mas ela acabou vingando por ocasião de um encontro improvisado
com Lansana Conté, o presidente da Guiné, no final de outubro de 2006.
Havia uma dezena de anos que ele não dava entrevista para a imprensa
estrangeira. Por que aceitar nos receber, naquele dia, em sua aldeia
natal, situada a três horas de viagem da capital, Conacri? Talvez porque
precisasse provar que ele ainda estava vivo, num momento em que corriam
boatos de que estava agonizando e que o país estava se deixando dominar
pelo caos.

*"Ao menos, eles trabalham"*
De fato, a discussão foi bastante sombria, apesar do cenário encantador
da imensa mansão do presidente Conté, com vista sobre o seu lago
privado. Ele chamou a maior parte dos seus ministros de "ladrões" e
fustigou os brancos, "que nunca pararam de se comportar como
colonizadores". Cantou as glórias de uma Guiné agrícola e pareceu
arrasado com a descoberta em alto-mar de jazidas petrolíferas que, em
sua opinião, farão da Guiné um país ainda mais corrupto.

Uma única vez, o rosto do presidente ficou iluminado: foi quando a
discussão abordou o assunto dos chineses. "Os chineses são
incomparáveis!", exclamou o general idoso. Ao menos, eles trabalham!
Eles não têm medo de pisar na lama junto com a nossa gente. Alguns deles
são cultivadores, como eu. Eu lhes entreguei uma terra cansada; vocês
deveriam ver o que eles fizeram com ela!"

A presença de chineses na África não é mais uma surpresa. Ao longo dos
últimos quatro ou cinco anos, nós os vimos progredirem por todos os
lados no decorrer das nossas reportagens, em Angola, no Senegal, na
Costa do Marfim ou em Serra Leoa. Mas o fenômeno passou para uma outra
escala. As coisas estão ocorrendo em alta velocidade, como se de repente
eles tivessem multiplicado seus esforços a ponto de penetrarem no
imaginário de um continente inteiro, desde o velho presidente guineense,
que há muito não viaja mais, a não ser para se fazer tratar na Suíça,
até os moleques congoleses, novos demais para diferenciarem um europeu
de um asiático.

No espaço de poucos anos, a questão da presença da China na África,
passou de um assunto complexo reservado a especialistas em geopolítica,
para um tema central nas relações internacionais e na vida cotidiana do
continente. E contudo, pesquisadores e jornalistas continuam trabalhando
com os mesmos números macroeconômicos: o comércio bilateral entre as
duas regiões foi multiplicado por 50 entre 1980 e 2005. Ele quintuplicou
entre 2000 e 2006, passando de US$ 10 bilhões para US$ 55 bilhões (de R$
16,5 bilhões para R$ 90,5 bilhões), e deverá alcançar US$ 100 bilhões
-cerca de R$ 165 bilhões- em 2010. Cerca de 900 companhias chinesas já
teriam se instalado em solo africano. Em 2007, a China teria tomado o
lugar da França como o segundo maior parceiro comercial da África.

Só que estes são números oficiais, que não levam em conta os
investimentos de todos os migrantes. Aliás, quantos são eles? Um
seminário universitário que foi realizado no final de 2006 na África do
Sul, onde a comunidade chinesa é a mais numerosa, arrisca o número de
750.000 para todo o continente. Os jornais africanos, por sua vez, não
raro se deixam levar pela euforia e chegam a se referir a "milhões" de
chineses. Do lado chinês, a estimativa mais elevada é apresentada pelo
vice-presidente da Associação da Amizade entre os Povos da China e da
África, Huang Zequan, que percorreu 33 dos 53 países africanos. Numa
entrevista que ele concedeu ao "Jornal do Comércio" chinês, em 2007, ele
avalia que 500.000 dos seus compatriotas vivem hoje na África (contra
250.000 libaneses e menos de 110.000 franceses).

Como se não passassem de integrantes de um exército de formigas, esses
migrantes não têm nome, nem mesmo um rosto, e permanecem mudos. Na
maioria dos casos, os jornalistas se queixam de que eles se recusam a
falar. E o tom dos artigos para descrevê-los se mostra inquieto, e até
mesmo alarmista, como se a chegada de uma nova potência não passasse de
mais uma calamidade para o continente negro, cujos sofrimentos já são
infindáveis.

Parece preferível enxergar as coisas de outra maneira. A entrada da
China na cena africana poderia muito bem representar, para Pequim, o seu
coroamento como superpotência mundial, uma nação capaz de fazer milagres
tanto em sua própria casa quanto nas mais ingratas das terras do
planeta. Além disso, para a África, este encontro talvez seja a
concretização da recuperação tão esperada desde o processo de
descolonização, nos anos 1960. Quem sabe, a hora do continente esteja
finalmente chegando -não só a hora da realização da derradeira esperança
do presidente guineense, como também dos 900 milhões de africanos-,
sinal de que mais nada será como antes. Neste contexto, vale conhecer
melhor os protagonistas deste enredo.

*Aventura chinesa na África*
Os chineses, primeiro. A história, tal como é contada no Ocidente, reza
que eles vivem há milênios uma aventura trágica, essencialmente coletiva
e confinada no interior das suas imensas fronteiras. Um dia de dezembro
de 1978, no momento em que o Império do Meio estava apenas se
recuperando dos tormentos da revolução cultural, Deng Xiaoping acenou
para os seus compatriotas com um slogan revolucionário: "Enriqueçam".
Vinte anos mais tarde, este se tornou o credo de 1 bilhão e 300 milhões
de chineses e, ao menos para uma parte dentre eles, isto já é uma
realidade. Para os outros, sobretudo os rurais, a vida tornou-se
impossível. Desde tempos imemoriais, na China, esta categoria da
população busca deixar a sua terra por um mundo melhor. A diáspora
chinesa, dizem, é a mais numerosa no mundo, com 100 milhões de pessoas,
além de ser a mais rica.

Até o ano de 2000, Pequim ainda tentava frear este movimento, de modo a
evitar que a imagem do regime saísse manchada. Atualmente, o incentiva,
em particular no que diz respeito aos bravos que querem tentar a sua
chance na África. Aos olhos dos dirigentes chineses, e singularmente na
concepção do presidente -que ganhou até mesmo o apelido de Hu Jintao, o
Africano-, a emigração acabou se tornando uma parte da solução ao
problema que consiste em reduzir a pressão demográfica, o
superaquecimento econômico e a poluição.

"Nós temos 600 rios na China, dos quais 400 morreram por causa de
poluição", afirmou um cientista em entrevista ao "Le Figaro", pedindo
para que o seu nome não fosse citado. "Nós não conseguiremos superar
este problema sem enviar ao menos 300 milhões de pessoas para a África!"

Até o momento, centenas de milhares deles já deram o grande salto.

É assim que termina, em meio ao mais completo silêncio, uma das últimas
etapas da globalização, com o encontro das duas culturas mais distantes
entre si que a terra já tenha visto. Na África, que é o seu novo
"faroeste", os chineses estão descobrindo às apalpadelas os grandes
espaços e o exotismo, a rejeição, o racismo e a aventura individual -e
até mesmo espiritual. Eles compreendem que o mundo é mais complicado do
que as descrições que dele faz o jornal "O Cotidiano do Povo". Esses
migrantes se encontram ora na posição de predadores, ora na de heróis da
sua própria história, ora conquistadores, ora samaritanos. É claro, eles
tendem a ficar entre eles, a se alimentar da mesma forma que em seu
país, não fazem esforços para aprender as línguas autóctones, nem mesmo
o francês ou o inglês; e, em muitos casos, eles não escondem a sua
reticência, com um careta de nojo, diante da idéia de abraçarem os
costumes locais, isso para não mencionar um eventual matrimônio com uma
mulher africana.

De tanto terem permanecido enclausurados atrás das suas grandes muralhas
ao longo de milênios, os chineses teriam perdido a vontade de se adaptar
às outras civilizações ou de coabitar com elas. Mas nenhum deles
retornará incólume da África. As suas viagens, e descobertas, abalam
daqui para frente a inércia da China, da mesma forma que pode ter lhe
proporcionado durante os anos 1980, a sua conversão ao capitalismo.
Esses chineses farão nascerem novas idéias, novas ambições.

Aliás, o seu governo, por sua vez, também passou por um processo de
mudanças desde que ele intensificou a sua presença na África. Muito
apegado ao seu lema de "não-ingerência" nos assuntos internos de outros
países, ele vai se dando conta progressivamente de que um apoio
declarado demais a certos ditadores pode causar-lhe prejuízos
consideráveis. Foi assim que Pequim, após ter sido o mais confiável dos
aliados de Cartum ou de Harare, tenta atualmente frear o ímpeto
guerreiro do Sudão no Darfur, enquanto a sua ajuda a Robert Mugabe, o
ditador zimbabuense, foi sensivelmente reduzida.

*E a África, como fica?*
Falemos agora da África. As potências coloniais a saquearam até 1960,
quando buscaram perenizar seus interesses no continente apoiando os seus
regimes mais brutais. A ajuda internacional, que é estimada em US$ 400
bilhões (cerca de R$ 660 bilhões) para todo o período que vai de 1960 a
2000 (US$ 400 bilhões não só equivalem ao PIB da Turquia em 2007, como
também à totalidade dos fundos que a elite africana teria escondido nos
bancos ocidentais), não produziu os efeitos esperados, e, segundo uma
teoria em voga, teria até mesmo piorado as coisas. Isso não impediu a
África de sobreviver por conta do sentimento de culpabilidade dos
ocidentais, os quais acabaram ficando desanimados com ela. Ao provocar o
fracasso de todos os programas de desenvolvimento, ao manter-se como a
vítima eterna das trevas, das ditaduras, dos genocídios, das guerras,
das epidemias e dos avanços dos desertos, ela se mostra incapaz de
participar um dia do banquete da globalização.

"Desde a independência, a África trabalha em promover seu retorno à
situação de continente colonizado. Ao menos, se este fosse o objetivo,
ela agiria exatamente desta maneira", escreve Stephen Smith em
"Negrologia". E este jornalista americano acrescenta, com a terrível
reflexão seguinte: "Contudo, mesmo seguindo esta meta, o continente está
fracassando. Ninguém mais quer adquirir qualquer coisa nele".

Errado: a China é compradora. Para alimentar o seu crescimento
desmedido, a República Popular tem uma necessidade vital em
matérias-primas, as quais o continente tem para dar e vender: petróleo,
minérios, além de madeira, peixe e produtos agrícolas. Nem a ausência de
democracia, nem a corrupção constituem obstáculos para ela. Os seus
"soldados de infantaria" estão acostumados a dormir numa esteira, a não
comer carne todos os dias.

Eles encontram oportunidades lá onde outros nada enxergam a não ser
desconforto ou desperdício. Eles perseveram lá onde os ocidentais há
muito desistiram e partiram em busca de um lucro mais certo. A China
enxerga mais adiante. Os seus objetivos vão muito além dos antigos
domínios reservados coloniais e desenvolvem uma visão continental a
longo prazo. Alguns consideram que tal atitude não passa de uma
estratégia, aprendida de Sun Tsu: "Para bater teu inimigo, é preciso em
primeiro lugar apoiá-lo, de modo que ele abrande a sua vigilância; para
tomar, primeiro é preciso dar".

Outros acreditam sinceramente nas parcerias nas quais as duas partes
saem lucrando, o que vem a ser um slogan recorrente da propaganda de
Pequim. De fato, a China faz muito mais do que simplesmente se apoderar
das matérias-primas africanas. Ela também escoa os seus produtos simples
e baratos e conserta as estradas, as ferrovias, os edifícios oficiais.
Está faltando energia? Ela constrói barragens no Congo, no Sudão, na
Etiópia, e se prepara para ajudar o Egito a retomar o seu programa
nuclear civil. O país carece de telefones? Ela está equipando a África
inteira com redes de telefonia sem fio e de fibras óticas. As populações
locais se mostram reticentes? Ela abre um hospital, um dispensário ou um
orfanato. O branco era condescendente e fanfarrão? O chinês permanece
humilde e discreto. Os africanos estão impressionados. Vários milhares
deles já falam em chinês ou estão aprendendo a língua atualmente. Muitos
outros admiram a sua perseverança, sua coragem e sua eficiência. E a
África inteira comemora a chegada desta concorrência que está quebrando
os monopólios dos comerciantes ocidentais, libaneses e indianos.

Portanto, a presença da China na África é muito mais do que uma parábola
da globalização, é o seu grande remate, uma profunda modificação dos
equilíbrios internacionais, um terremoto geopolítico. Estaria ela se
instalando na África em detrimento definitivo do Ocidente? Será ela a
luz providencial para o continente em trevas? Será que ela o ajudará a
assumir finalmente o seu destino? Para responder a essas perguntas, nós
sabíamos disso, alguns artigos não seriam suficientes. Era preciso
explorar o terreno, viajar pela África afora, ir ao encontro dos
chineses e dos africanos, e buscar compreender as motivações de todos
eles; era preciso escrever este livro.

*Tradução:* Jean-Yves de Neufville
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O melhor comentário a esta matéria é esta a seguir,,,,, Em 2 palavras: COMPLEMENTADORA e ESCLARECEDORA (esta classificação é nova), sem ser preconceituosa.
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20/06/2008
Principal potência que se beneficia da globalização está na Ásia
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2008/06/20/ult580u3150.jhtm

Caroline Fourest*

Nós adotamos o hábito de denunciar a globalização como uma forma de ocidentalização. Os adversários do universalismo vão mais longe, assimilando a ocidentalização a uma espécie de colonização cultural. Essa retórica permite principalmente que os regimes autoritários associem ao Ocidente valores como os direitos humanos, a democracia ou a laicidade, para melhor recusá-los em nome do antiimperialismo. Essa estratégia discursiva poderia causar ilusão enquanto a maior potência econômica era americana. O que será amanhã, quando finalmente percebermos que a principal potência que se beneficia da globalização não vem do Ocidente, mas do Extremo Oriente?

Vários conflitos, notadamente os que dilaceram a África, não são mais ditados pelos interesses econômicos europeus ou americanos, mas chineses. A sinistra "Françáfrica" está sendo amplamente destronada pela "Chináfrica", do nome de um livro de Serge Michel e Michel Beuret que descreve bem essa nova realidade (editora Grasset). O comércio bilateral entre as duas regiões quintuplicou entre 2000 e 2006. Estima-se em 500 mil o número de chineses que vivem na África para construir estradas, hotéis e barragens. É o que já se chama de "aspecto positivo" da presença chinesa na África. O aspecto negativo é esse apetite devorador de energia e de matérias-primas, que a levou a fazer negócios com ditadores em detrimento das populações, da democracia, do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.

Oficialmente, é claro, não se trata de dominação. A China insiste ao contrário em aparecer como uma potência do sul, e lembra sua presença ao lado dos não-alinhados na conferência de Bandung. Durante as cúpulas sino-africanas ela reivindica uma "parceria estratégica de um novo tipo", caracterizado pela "igualdade e a confiança recíproca no plano político" e na "cooperação em que todos saem ganhando no plano econômico". Dito de outro modo, ela defende sem complexos um negocismo diferencialista do tipo "nossos lucros valem mais que os direitos humanos".

Sem essa política cínica, haveria menos mortos em Darfur, mais democracia na Birmânia e talvez um novo governo no Zimbábue. Bizarramente, além de países que buscam tentam esquecer suas próprias vítimas, muitos poucos sonham em denunciar a falta de consciência dessa nova força econômica. Sobretudo não certos militantes que reivindicam uma consciência antiimperialista ambígua, feita de admiração pela "resistência" islâmica e uma certa complacência em relação à China.

Esses não militam realmente a favor de um eixo Norte-Sul mais justo, nem mesmo contra os efeitos da globalização ultraliberal. Eles desejam sobretudo uma vingança de identidade contra os EUA, a Europa e Israel (ou seja, contra os judeus). Desde que é oriental e não ocidental, a China pode portanto se permitir pilhar a África ou mesmo discriminar sua minoria muçulmana uigur sem correr o risco de ser chamada à ordem.

Esse posicionamento acrobático corre o risco de ser cada vez mais difícil de manter. Depois de um período de dominação principalmente discreto, empurrado pelas necessidades crescentes de energia e matérias-primas, a nova potência do Extremo Oriente poderia ser tentada a passar a uma marcha mais rápida. O sucesso de seus imigrantes já provoca hostilidade na Indonésia, onde o sentimento antichinês continua pronto a ressurgir. Na África algumas populações resmungam contra esses chineses que se vêem em toda parte e que roubam seu trabalho... Com o tempo esse ressentimento talvez acabe fazendo esquecer velhos rancores, como o que existia entre a Europa e suas antigas colônias.

No entanto, enquanto o islamismo ocupa o teatro de nossas preocupações imediatas, a oposição Ocidente/Oriente funciona como uma cortina de fumaça. Nos bastidores a China tem interesse nisso. Em um plano econômico, o azedume dos países muçulmanos em relação ao Ocidente lhe permite conseguir contratos por preços que não poderia negociar sem esse contexto exacerbado. Em um plano mais simbólico, o enfoque no Ocidente lhe permite ter todas as vantagens da potência econômica sem os inconvenientes.

Essa situação idílica não poderia durar. A China percebe que sua nova situação supõe deveres para com a comunidade internacional. Sua mediação em Darfur, suas hesitações a respeito das armas pedidas por Mugabe e o início da transparência durante o terremoto em Sichuan são sinais animadores. Em algumas gerações, como todas as primeiras potências, ela terá secretado seus próprios contrapoderes.

Enquanto isso, a nova ordem mundial à sombra da China promete horas de instabilidade em detrimento dos direitos humanos. Quem terá meios para contestá-la? Não a França de Nicolas Sarkozy, tão sensível aos interesses do mundo dos negócios. Durante seu discurso sobre a política de civilização ele sugeriu uma diplomacia que prefira "a diversidade à democracia". Uma expressão que corresponde palavra por palavra ao credo utilizado pelos dirigentes chineses para reivindicar um mundo sob o signo do diferencialismo e do negocismo, e não sob o signo do universalismo e dos direitos humanos.

*Caroline Fourest é ensaísta e professora na Science Po.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Conhecidos pela lealdade à empresa, japoneses começam a exigir direitos trabalhistas

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2008/06/15/ult574u8564.jhtm

15/06/2008
Conhecidos pela lealdade à empresa, japoneses começam a exigir
direitos trabalhistas

Martin Fackler
Em Tóquio

Os assalariados do Japão, famosos por sua ética de trabalho e
lealdade corporativa, alimentaram o crescimento industrial do país.
Mais recentemente, entretanto, eles têm carregado o peso do declínio
econômico do país, suportando salários baixos, instabilidade nos
empregos, e longas horas extras não pagas.

Agora, alguns estão lutando contra isso, como Hiroshi Takano.

Durante anos, Takno trabalhava regularmente durante muitas horas
como gerente do McDonald's Co. Japão. Com sua saúde se deteriorando
e a companhia, uma empresa japonesa dona de vários restaurantes no
país, recusando-se a pagar horas extras, Takano processou seu
empregador e ganhou.

Em janeiro, uma corte de Tóquio ordenou que o McDonald's Japão
pagasse a ele US$ 75 mil relativos às horas extras antigas. Em maio,
a companhia anunciou que pagaria mais horas extras para os gerentes
de suas lojas.

Lentamente e com alguma relutância, os assalariados do Japão estão
aprendendo a defender seus direitos, e nesse processo estão
reescrevendo o contrato social que antes ligava os trabalhadores às
companhias numa espécie de código de lealdade quase que feudal.
Enquanto essa renegociação acontece, uma nova geração de japoneses
como Takano procura limitar as demandas dos empregadores com uma
proteção legal ao estilo norte-americano. Essa mudança de atitudes
reflete uma transição mais ampla conforme o Japão, primeiro país a
ter uma história de sucesso e alto crescimento na Ásia, tenta
amadurecer para tornar-se uma economia pós-industrial.

"Os japoneses estão sendo forçados a pensar mais em seu interesse
próprio, o que é algo que eles não estão acostumados a fazer", diz
Yoichi Shimada, professor de leis na Universidade Waseda em Tóquio.
"As pessoas estão percebendo aos poucos que existem meios legais
para se defenderem caso se sintam prejudicadas."

De acordo com a Suprema Corte do Japão, o número de processos contra
empregadores aumentou 45% entre 1997 e 2005, para 2.303 casos. Em
2006, esse número cresceu 21%, para 2.777 casos, se incluídos os
processos ouvidos em um novo tribunal de causas trabalhistas.

Para aumentar a alienação entre empregados e as companhias, há um
ressentimento cada vez maior em relação à percepção de que os
trabalhadores não se beneficiaram com a recuperação econômica do
país nos últimos cinco anos.

Enquanto os lucros corporativos aumentaram, os salários permaneceram
estagnados, alimentando a percepção de que as companhias falharam em
dividir a bonança com seus empregados. Isso fez com que muitos
passassem a exigir uma fatia maior do bolo, dizem os especialistas
em direito e mercado de trabalho.

Há também a suspeita de que à medida que as companhias cortaram
custos para continuarem competindo com a China e a Coréia do Sul,
passaram a maior parte do fardo para os empregados. Em particular, a
maior parte dos processos recentes envolve as "horas extras", que os
trabalhadores eram pressionados a fazer sem serem pagos, para
demonstrar sua lealdade, dizem os especialistas em mercado de
trabalho.

"As companhias japonesas usaram o silêncio de seus trabalhadores
leais como uma arma na competição internacional", diz Kiyotsugu
Shitara, diretor do Sindicato de Gerentes de Tóquio, um pequeno
sindicato que ajudou no processo de Takano contra o McDonald's. "Os
empregados estão cansados de serem usados dessa forma."

Shitara e outros especialistas em trabalho dizem que o aumento dos
processos também é o passo mais recente em direção a um ambiente de
trabalho mais ao estilo americano - o que também é aparente no
aumento recente da mudança de emprego no meio da carreira, antes
rara no país.

Ainda assim, muitos empregados envolvidos com processos descrevem a
si mesmos como revolucionários relutantes, arrastados para uma era
mais legalizada à qual eles não têm outra opção senão adaptar-se.

Alguns, como Takano, culpam as atitudes indiferentes das companhias
por forçá-lo a lutar contra, ao passo que eles voltariam assim que
pudessem para o velho e aconchegante relacionamento entre patrões e
empregados.

"Eu não queria fazer isso", diz Takano, 46, que ainda gerencia uma
loja do McDonald's no subúrbio de Tóquio. "A companhia estava me
tratando muito friamente, então tive de começar a proteger meus
próprios direitos."

Outra autora relutante de um processo é Hiroko Uchino, que entrou
com uma ação contra o governo depois que seu marido, Kenichi, 30,
funcionário de controle de qualidade na Toyota, morreu no escritório
há seis anos. Uchino queria que o órgão trabalhista do governo
reconhecesse que ele morreu por trabalhar demais, algo tão comum no
país que há até mesmo uma palavra em japonês para isso: karoshi.

Ela tomou providências legais depois que a companhia disse que a
morte de seu marido não foi por excesso de trabalho, e que ele havia
feito apenas 38 horas extras em janeiro de 2002, um mês antes de
morrer. Ela disse que a companhia a ignorou quando ela quis
comprovar com notas fiscais de postos de gasolina e outras
evidências que o marido havia trabalhado muito mais horas: 155 em
janeiro, pelo cálculo de Uchino. Segundo ela, a companhia disse que
ele ficava depois do horário de trabalho por vontade própria, e não
tinha direito a pagamento por horas extras.

Apesar de enfurecida, Uchino não conseguiu desafiar legalmente a
gigante automotiva, que domina a cidade central de Nagoya, onde ela
vive, e já havia empregado não somente seu marido, mas também seu
pai e antes disso seu avô. Ela processou o órgão trabalhista do
governo em vez disso, para receber o pagamento das horas extras do
marido.

O caso de Uchino recebeu grande atenção, incluindo um encontro com o
ministro do trabalho, que lhe ofereceu palavras de conforto. Em
março, um tribunal em Nagoya decidiu que a morte de seu marido
estava relacionada ao trabalho, e que ele havia feito 93 horas
extras no seu último mês, concedendo à viúva o direito de receber o
pagamento adicional. A Toyota não comentou o caso.

"O pai dele não teria jamais procurado a justiça, não importa o que
acontecesse", diz Uchino, 38. "Mas a Toyota jamais o teria tratado
dessa forma, tampouco. Hoje em dia, as companhias falam em reduzir
as despesas."

E acrescentou: "se meu marido soubesse como a companhia iria reagir,
ele nunca teria demonstrado toda essa lealdade despropositada."

Takano, gerente do McDonald's, diz que trabalhava das 6 da manhã até
a 1 da manhã, gerenciando duas lojas antes de entrar com o processo,
em alguns casos trabalhava sete dias por semana. O McDonald's Japão
diz que como um gerente que não faz serviços braçais, ele não tinha
direito de receber pagamento por horas-extras. Depois que um médico
alertou-o sobre o risco de ter um derrame, Takano disse que hesitou
em entrar com o processo - ele gostava do McDonald's e queria manter
seu emprego. Agora, ele espera que o caso melhore as condições de
trabalho para todos os gerentes.

A companhia não comentou o caso.

Depois da vitória no tribunal, outros quatro ex-gerentes de lojas do
McDonald's entraram com processos semelhantes pelo pagamento de
horas-extras. Especialistas legais dizem que podem vir muitos mais
casos da indústria de fast-food.

"Quero que o Japão se torne uma sociedade em que os empregados
possam processar suas próprias companhias", diz Takano. "É por isso
que estou fazendo isso."

Tradução: Eloise De Vylder