quinta-feira, 19 de junho de 2008

Vitoriosos da globalização à caça do próximo país de baixos salários

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2008/05/15/ult2682u794.jhtm



15/05/2008
Vitoriosos da globalização à caça do próximo país de baixos salários
- Parte 2
O que as empresas ocidentais fazem quando os operários da China
começam a exigir melhores salários e condições? Fácil -transferem a
produção para um país mais barato. A perda da China é o ganho do
Vietnã

De Alexander Jung e Wieland Wagner

A caravana passa
O administrador Huang Hanxin, 68 anos, está combatendo a nova onda
de custos em todas as frentes. Ele dirige a Sha Wan Dian Ji, uma das
maiores fabricantes de secadores de cabelo do mundo, que produz
cerca de 7 milhões de unidades por ano. Os funcionários, a maioria
mulheres jovens, montam os secadores que serão vendidos sob as
marcas Revlon, Conair, Babyliss e Vidal Sassoon. Eles montam os
corpos plásticos em uma taxa quase acrobática, com 70 mulheres
montando 3 mil unidades por dia na linha de montagem.

A fábrica antes conseguia um lucro de 15%, mas atualmente este
número caiu para entre 3% e 5%, diz Huang, acrescentando que a
valorização do yuan frente ao dólar prejudicou seriamente a empresa.
Além disso, diz Huang, leis de proteção ambiental mais rígidas
aumentaram em 3% a 5% o custo da produção. A União Européia exigiu
recentemente que os fabricantes reduzissem o conteúdo de substâncias
perigosas como chumbo e cádmio em aparelhos eletrônicos. Isto, diz
Huang, significa comprar materiais diferentes e mais caros.

Os compradores de bens importados da China estão descobrindo que
seus preços saltaram consideravelmente, especialmente para itens
comuns como vestuário e calçados. Grandes gerentes de compras de
empresas manufatureiras e de comércio alemãs confirmam que o "made
in China" não é mais sinônimo de "imbativelmente barato". Fontes na
gigante alemã de vendas por catálogo, Otto, dizem que notaram "altas
significativas de preços", especialmente para têxteis. A Kaufhof,
uma grande loja de departamentos alemã, também está vendo aumentos
constantes de preços para produtos feitos na China. Fontes nas
empresas dizem estar "preocupadas" com a situação. De fato, a
situação é motivo de preocupação para qualquer um que faça negócios
com a China, especialmente empresas de pequeno e médio porte.

Os fornecedores chineses aumentaram preços em todas as categorias de
produtos, diz Mario Moeschler, um executivo de marketing da Winora,
uma fabricante de bicicletas com sede na cidade bávara de
Schweinfurt, que diz que as altas nos preços foram entre 5% e 10%.
"Nós fomos informados sobre os aumentos de preços", diz Moeschler,
que recebe três a quatro cartas da China a cada semana.

A explicação para o aumento de preço é sempre a mesma, ele diz: o
valor da fatura é maior, infelizmente, porque o aço e o alumínio se
tornaram incrivelmente caros. Esses aumentos de preço são
especialmente prejudiciais aos fabricantes de bicicletas, que obtêm
muitas de suas peças, como quadros e garfos, da China.

É claro, os preços das matérias-primas subiram em todo o mundo. Mas
o que está tornando os produtos da China muito mais caros agora é o
enorme aumento nos custos trabalhistas. Um aumento anual de 10% ou
mais nos salários agora se tornou regra.

Atualmente um engenheiro chinês ganha cerca de US$ 31 mil por ano,
aproximadamente o dobro do que no início da década. Além disso, está
se tornando cada vez mais difícil encontrar -e manter- esses
trabalhadores qualificados.

Não causa surpresa que 94% das empresas alemãs com negócios na China
esperem que os custos salariais continuaram subindo, como mostrou um
levantamento da firma de consultoria administrativa
PricewaterhouseCoopers (PwC) e da Associação Federal de
Administração, Compra e Logística de Materiais. Segundo o estudo, a
economia média em preço com produtos chineses atualmente é de apenas
cerca de 10%. As empresas dizem que não é incomum para elas até
terem prejuízo.

"À medida que aumenta o padrão de qualidade e o nível de automação,
e as limitações de tempo se tornam mais restritivas, terceirizar
produtos na China está se tornando cada vez menos atrativo, do ponto
de vista do preço", diz Klaus Schulten, especialista da PwC.

Os importadores começaram a procurar por alternativas há muito
tempo. "Leste Europeu e Índia", conclui o estudo da PwC, "se
tornarão substancialmente mais importantes como mercados de
fornecimento a médio prazo". Parece que a caravana está seguindo em
frente.

Um empregador modelo
E a indústria de calçados estabeleceu o tom. Centenas de empresas já
tiveram que fechar suas fábricas na província de Guangdong, na
China. Ao mesmo tempo, centenas lançaram novas operações em países
como Índia, Bangladesh, Indonésia, Vietnã e Camboja. Ironicamente, a
indústria de calçados alemã às vezes se depara com velhos conhecidos
lá: freqüentemente são os chineses que desenvolvem fábricas nestes
países.

Thomas Schneider, 52 anos, também se estabeleceu no Vietnã, a terra
prometida da indústria internacional de calçados, onde a maioria dos
seus clientes -marcas globais, de Adidas a Timberland- estão cada
vez mais tendo seus calçados fabricados. Schneider pesquisou
inúmeros parques industriais antes de encontrar uma área próxima de
Ho Chi Minh, antes conhecida como Saigon. A partir de agosto de
2009, 200 operários começarão a curtir couro para Schneider na nova
instalação.

Schneider, que aprendeu a atividade de curtimento em Reutlingen,
perto de Stuttgart, quase estabeleceu raízes na China. Ele
desenvolveu um curtume em Taiwan e, no início dos anos 90, seguiu a
indústria do couro para a China, o mais recente paraíso de baixos
salários da época.

Ele agora opera um dos maiores curtumes da China em Guangdong, onde
sua empresa, a ISA Tan Tec, desenvolveu sistemas de produção bons
para o meio ambiente e fornece segurança e saúde ocupacional
exemplares, revolucionando assim uma indústria notoriamente
poluidora e insegura.

Mas agora sua fábrica modelo enfrenta dificuldades. No ano passado,
o governo em Pequim removeu as isenções de impostos para bens
exportados como couro. Desde abril, a ISA Tan Tec começou a pagar
perto de 18% do preço de venda em impostos para fornecer para
fábricas de calçado do exterior. No passado, a sobretaxa era de
pouco mais de 2%.

Aumentos gerais de preços -devido aos salários mais altos, taxa
recorde de inflação de mais de 8% e a valorização do yuan- também
complicaram as coisas. Mas a pior coisa na China, diz Schneider, é a
incerteza, porque as autoridades em Pequim planejam as isenções de
impostos ano a ano. Isto impossibilita para qualquer empresa
planejar de forma confiável para o futuro.

Devido aos altos custos, Schneider já reduziu sua força de trabalho
em Guangdong de 1.000 para 800 funcionários. Até que a fábrica
planejada no Vietnã esteja pronta para entrar em operação, ele já
conta com couro produzido no Vietnã por outro curtume. Afinal, seus
clientes não esperarão por ele.

Schneider também planeja seu novo endereço perto de Ho Chi Minh como
uma fábrica modelo. Apesar de ser obrigado a pagar aos trabalhadores
no Vietnã apenas metade do que paga aos trabalhadores na China
-cerca de US$ 65 por mês- as exigências rígidas das empresas de
calçados em relação à proteção ambiental e segurança se aplicam
igualmente ali. Schneider não têm restrições em atender, porque seus
métodos de produção bons para o meio ambiente são na verdade seu
trunfo mais forte na luta contra sua concorrência.

Ele até mesmo planeja reduzir a temperatura em sua fábrica usando
uma bomba de calor. Além de reduzir as emissões de CO2, essas
técnicas também permitem a Schneider reduzir seus custos de
eletricidade. Os preços também estão subindo no Vietnã, onde a
inflação está próxima de 20%. Durante uma visita de levantamento,
Schneider ouviu histórias de outros chefes sobre quão dura é a
disputa por pessoal qualificado. Após o Tet, o Ano Novo vietnamita,
milhares de vietnamitas não voltaram aos seus empregos -eles os
trocaram por empresas que pagam mais.

Mas Schneider não tem escolha. A próxima etapa do jogo se passa no
Vietnã -pelo menos até que seus clientes na indústria de calçados
decidam que é hora de se mudar para o próximo país de salário baixo.


Tradução: George El Khouri Andolfato

SENDO "ENXUTA", E "BEM ESCRITA", É "FANTASTICA", "ILUSTRADORA", "PEDAGÓGICA", "MUITO LEVEMENTE TENDENCIOSA"...

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